entreparedes

Oh as casas as casas as casas Eu amei as casas os recantos das casas Visitei casas apalpei casas Só as casas explicam que exista uma palavra como intimidade Sem casas não haveria ruas as ruas onde passamos pelos outros mas passamos principalmente por nós [Ruy Belo]

Pinho

A madeira de pinho foi a nossa primeira e única escolha. Primeiro porque é barato. Segundo porque é luminoso. Terceiro porque é aromático e quente. Qualquer casa com soalho de pinho parece que cresce. E depois, a mim, faz-me lembrar o cheiro da serração da minha infância e a resina que usava para colar os cromos na caderneta.

SOALHO1 SOALHO2 SOALHO3 SOALHO4 SOALHO5 SOALHO6 SOALHO7 SOALHO8 SOALHO9 SOALHO10 SOALHO11 SOALHO12 SOALHO13 SOALHO14

«Com a altura da idade a casa se acrescenta.
Não é que aumente a quantidade ao espaço.
Mas, sendo mais longínquos, o desapego pensa
maior distância quando se fica a olhá-lo.
Ou, se quiserem, uma realeza
se instala à volta dessa altura de anos,
de forma a que os objectos apareçam
na luz de quase já nem os amarmos.
Então a casa distende-se na intensa
inteligência de estarmos
a ver as coisas amarem-se a si mesmas.
Ou com a forma a difundir seu espaço.»

Fernando Echevarría

A Porta

PORTA

«Eu sou feita de madeira
Madeira, matéria morta
Mas não há coisa no mundo
Mais viva do que uma porta»

[Vinicius de Moraes, A Porta]

 

Andámos às voltas com a porta. Fica ou sai? Se sai, fazemos um novo desenho? Mais recente? Tradicional? Com ou sem janela? O carpinteiro de serviço começou por nos demover da ideia de mantermos a porta original. Era colossal, belíssima, mas já cheia de excertos e aferrolhada de alto a baixo com barras de ferro que, uma vez removidas, poderia ser o fim daquele belo exemplar. Assim, acabámos por a reservar para projectos futuros que hão-de aparecer nas nossas cabeças. Que venha então uma porta nova. Fizemos um levantamento das soluções mais utilizadas por aí e chegámos à conclusão que nestas coisas não vale a pena inventar. E jogámos pelo seguro: uma porta tradicional sem mais nem menos. Entretanto, comprámos uma réplica do batente original (que se partiu aquando da remoção da porta) e um puxador simples e honesto. Quanto à cor é o que se vê: macia e discreta. Ficámos felizes com o resultado. Agora, basta aguardar que nos venham bater à porta.

 

Vamos a banhos

Casa de Banho Principal

 

Casa de Banho Principal (interior box-duche)

Sempre gostei de expressão «casa de banho». Talvez remonte aos tempos em que o banho era um acontecimento excepcional na vida das pessoas, um ritual estranho à vida quotidiana e que, por isso, deveria ser uma operação a decorrer o mais afastada possível da rotina e zona doméstica, assim lá fora, numa casa. Aqui montámos uma casa de banho num salão, entre dois quartos: duas caixas e um bom isolamento, aos quais acrescentamos um azulejo biselado (normalmente usado no exterior) e um cuidado especial com a estrutura original. Mais pormenores no próximo post.

Inventário 005: Tomada

Acreditamos que Munch teria adorado esta tomada e dela teria feito um modelo para os seus quadros. Mas trata-se apenas de uma velhinha tomada fabricada pela desaparecida Electro-Cerâmica, dali mesmo, do Candal. [Guardada para memória futura].

Obra em curso (parte 2)

Mais um pequeno relatório sobre as obras em curso na rua de Entreparedes (como quem diz, em casa) acompanhado de um pouco de Antero de Quental: «E enquanto eu na varanda de marfim / Me encosto, absorto n’um cismar sem fim(…)»

Obra em curso

Depois de um curto interregno no nosso diário de obra, estamos de volta em força e, desta vez, sob o signo de Mário Cesariny: «Faz-se luz pelo processo / de eliminação das sombras (…)»

Começaram as limpezas!

Deram início as limpezas na casa. Todo o reboco solto nas paredes está a ser retirado e o resultado final será ficar com as técnicas tradicionais à vista. Neste caso, algumas paredes em alvenaria de pedra e outras em tabique como se pode ver nas fotografias em baixo.

Inventário 005: Fechadura

Na cobertura

Na nossa casa começámos pelo telhado. Modificações e substituições mínimas, com salvaguarda da clarabóia e estrutura original do telhado. E correu bem.

«Todo o conhecimento genuíno tem origem na experiência directa.» [Mao Tse-Tung]

Aqui optámos pelo modo de produção vertical: concebemos o projecto, desenhamos os pormenores, demolimos paredes e tectos e, lá mais para a frente, também a pintura e sabe-se lá o que mais ficará por nossa conta. É o maoísmo concretizado: a conciliação do trabalho operário com o trabalho o intelectual. É esta a revolução cultural da reabilitação urbana!  E quando chegar a vez do quintal, entrará em cena o campesinato…

Não é uma casa na árvore!

Quem nunca sonhou com uma casa na árvore? Nós vamos ter uma casa…no quarto!

A Selva

Como já dissemos, nesta casa o jardim é quase tudo. Sinta-se convidado para uma viajem virtual ao pulmão secreto da baixa do Porto. Se assim desejar, poderá ainda ter a companhia do grande Villa-Lobos:

Mosaico surpresa

Mosaico hidráulico

Uma vez removida a camada de cimento que alguém se lembrou de despejar em cima da varanda da casa de Entreparedes, eis que somos confrontados com esta bela surpresa.

Inventário 004: Candeeiro

Candeeiro

Completamente fascinados por estes velhos candeeiros. Do tempo em que serviam para iluminar [e ponto final]

Soalho

A primeira coisa a fazer é diagnosticar o estado do paciente. Para ler os sintomas é preciso libertá-lo das próteses que os anteriores residentes foram acrescentando. Prédios como este, que foram intensamente habitados, apresentam várias camadas sobrepostas de pinturas, rebocos, alcatifas, linóleos, pranchas de platex e aglomerados de madeira vários. É preciso escavar, demolir e lavar para depurar o edifício até aos seus elementos primitivos. Só então é que podemos fazer contas à vida. Aqui, alguém se lembrou de aplicar uma camada de forro de madeira sobre o soalho. Vai-se lá saber para quê: uma vez retirado o forro, constatou-se que o soalho original se encontra em muito melhor estado do que o acrescento.

Inventário 003: Gradeamento

Gradeamento de escada

Recomendações da casa

No último piso...

Os parceiros deste projecto merecem um destaque especial. Connosco trabalham apenas os melhores profissionais e as melhores marcas, aqueles em quem depositamos total confiança pela qualidade dos serviços e produtos. E pelos bons preços, claro. Aqui constam as nossas recomendações pessoais: PARCEIROS.

Clarabóia

Clarabóia

O meu prédio é um mostrengo, um ciclope com o óculo virado para o céu.

A escada de Jacob

Escada central

«E sonhou: e eis uma escada posta na terra, cujo topo tocava nos céus; e eis que os anjos de Deus subiam e desciam por ela.» [Génesis 28:12]

Inventário 002: disjuntor arcaico

Inventário: disjuntor arcaico

«So much has been done, exclaimed the soul of Frankenstein—more, far more, will I achieve; treading in the steps already marked, I will pioneer a new way, explore unknown powers, and unfold to the world the deepest mysteries of creation». [Frankenstein: or the Modern Prometheus. Mary Shelley]

Inventário 001: interruptor rotativo

Levantamento: Interruptor rotativo

Pequenos nadas, pormenores insignificantes. Até pode ser. Mas dava tudo para encontrar uma caixa – perdida num desses armazéns adormecidos da baixa – cheia de interruptores como este . Este é filho único e agradecia a companhia.

Levantamento

Levantamento: sondagem em parede interior

«Achas que ficava bem aqui uma janela? Estás a ver? A ligar a sala e a cozinha… humm… mas será que dá? Como é que está esta parede? Parece tabique mas tem aqui umas fissuras estranhas… Para cá o martelo!» E assim vai evoluindo o projecto, decisão a decisão, sempre apoiadas num minucioso levantamento. E este trabalho delicado não pode ficar por mãos alheias.

«Pela rua já serena / Vai a noite»

Rua de Entreparedes: «Pela rua já serena / Vai a noite»

A nossa rua é muito especial. Tem ao fundo o Teatro Nacional São João, tem a praça da Batalha numa ponta e na outra a praça dos Poveiros. Na vizinhança temos o Coliseu, a Biblioteca Pública Municipal do Porto, a Faculdade de Belas Artes, a rua de Santa Catarina e os Maus Hábitos. Temos ainda, mesmo ali à mão, vários parques de estacionamento, o metro, a estação de São Bento, o eléctrico, a central de camionagem da rede de expressos, muitas paragens dos STCP, o funicular dos Guindais e sabe-se lá o que mais! Mas a nossa rua é mesmo especial por causa do nome: Rua de Entreparedes, sim, tal e qual, como se de uma casa se tratasse. Querem lá nome mais acolhedor para uma rua?

«Era uma casa muito engraçada»

Pormenor da escada

«Era uma casa muito engraçada / Não tinha teto, não tinha nada // Ninguém podia entrar nela, não / Porque na casa não tinha chão // Ninguém podia dormir na rede / Porque na casa não tinha parede // Ninguém podia fazer pipi / Porque penico não tinha ali // Mas era feita com muito esmero / Na rua dos bobos, número zero» [Vinicius de Moraes]

Uma pequena homenagem à Adriana. Segundo reza a lenda, terá sido esta cançoneta que lhe terá despertado precocemente a vocação para a arquitectura. Não é impunemente que alguém passa por uma infância carioca.

«É aqui, é aqui que se renova a luz»

Pormenor da abóbada verde do jardim

«Consideremos o jardim…»

Vista aérea do nosso novo quarteirão

Sempre quis uma casa com um longo corredor que ligasse directamente a porta da rua com a porta do jardim. Entre os dois extremos, uma casa onde se pudesse abrigar a intimidade, os amigos, a família, mas também o negócio e a parafernália  que se foi pendurando na  vida e sem a qual já não sabemos viver. E tudo isto sem apertos, no centro histórico da nossa cidade – o Porto – e num edifício com história. Tarefa difícil, mas que acabou por ser cumprida. Dezenas de edifícios escrutinados, tropeçámos neste com cerca de 500m2 de jardim na freguesia da Sé. E como diria António Ramos Rosa: «Consideremos o jardim…»

Leia o resto deste artigo »